domingo, 30 de maio de 2010

Benção para uma sobrevivente

Para C.N.
Possa o eterno Deus
lhe dar consolo
nesta hora de adeus
e transformar este momento
de sombrias emoções
em um novo futuro
de belas recordações,
das pessoas que partiram,
das vidas que viveram,
dos sonhos que revelaram.

RJ, 07/03/2005.

Pássaros e Poemas

No último domingo, 23 de maio, o jornal O Globo publicou uma notícia sobre as aves que vivem no ecosistema onde está a UFRJ, a Ilha do Fundão. Por trás dessa notícia está um grande amigo, Alfredo Heleno de Oliveira, conhecedor profundo das aves brasileiras e seus cantos e das plantas. Vale a pena conferir a notícia e as excelentes fotos de pássaros.

Alfredo Heleno despertou meu interesse pelos pássaros. Gosto de caminhar e, quando posso, caminho observando os habitantes terrestres e alados. O poema "A Dança" nasceu da observação de um pequeno pássaro que brincava com as ondas numa praia em João Pessoa. Infelizmente estava sem a máquina fotográfica. Só restou a memória.


A dança

Dois saltos para lá,
um salto para cá.
Marco meu compasso
com a espuma do mar.
Com alegria festejo
o nascer do dia.
Meu tempo segue a cadência
das ondas deste belo mar,
que molham a areia
onde me ponho a saltar.
Quando aperta o ritmo
e a maré ameaça me levar,
abro minhas asas e vôo
para longe deste incrível mar.

RJ, 26/04/2008.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Lareira

Chamas claras,
amarelas, brilhantes.
Estalos fortes,
sussurros uivantes.

Madeiras negras,
vermelhas escuras,
irradiam uma luz suave
da nuvem incandescente.

De dia apagada,
sem vida e fria.
De noite acesa
irradia beleza.

A lareira espalha
aconchego e calor.
No canto da sala cria
um espaço acolhedor.

Itatiaia, 22/05/2010.

sábado, 15 de maio de 2010

O Jardineiro

O jardineiro trabalhou
até o entardecer do dia,
podou os galhos mortos,
adubou os novos brotos.

Como fruto da graça,
as sementes germinaram
no pomar das nossas vidas
em plantas e árvores lindas.

As cores se multiplicaram
nos muitos frutos e flores,
transformaram nossa angústia,
amenizaram nossas dores.

No tempo apropriado
descansou o jardineiro
mas não deixou de cuidar
do pomar das nossas vidas.

RJ, 04/10/2009.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Não só de Pão viverá o Homem

Dt 8:1-20; Mt 4:4; Lc 4:4
Segunda-feira, cinco horas da manhã. O dia ainda está clareando quando José da Silva acorda. Ele se arruma apressado, corre até a padaria, compra cinco pães e um litro de leite. Retorna para casa, prepara o café, se alimenta e despede-se da esposa e dos filhos. Seu destino é o centro da cidade, para a labuta diária. Terá ainda que enfrentar uma hora de ônibus, quase sempre em pé, num espaço tão apertado que, para acomodar os passageiros, o motorista costuma provocar umas freadas bruscas.

Não só de pão viverá o homem... José não conseguia parar de relembrar estas palavras que ouvira na igreja. Dentro do ônibus ele pensava que compreendia estas palavras. Mal podia suportar o mau hálito do vizinho da frente e o sovaco do braço que passava por sua cara. Sua vida era atribulada. A comida dos filhos era limitada mas não passavam fome. Pão, arroz e feijão todos podiam comer.

Não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca de Deus. Como era difícil compreender estas palavras. Ele acreditava que Deus tinha falado através dos profetas e de outros mensageiros, assim dizia a Bíblia. Mas aquelas palavras não descreviam um passado remoto. Elas falavam do presente. Elas projetavam o futuro. Como podia Deus falar no presente? Será que ele era capaz de escutá-lo?

Aquela manhã transcorreu agitada. Seu trabalho não era exatamente difícil, as tarefas eram um pouco monótonas. Sequer durante o almoço podia relaxar. Saía do escritório para um pequeno bar distante duas quadras e, no caminho, ainda tinha que pagar as contas e comprar o material escolar dos filhos. Claro que ele olhava as vitrinas das lojas e muitas vezes sonhava com um televisor maior, um aparelho de som. Sonhava com seus filhos freqüentando boas escolas e uma vida com menos aflições. O tempo do almoço já terminara, era necessário voltar para o trabalho, adormecer os sonhos e, tão somente, batalhar pelo pão de cada dia.

O ônibus da volta permitiu retomar sua reflexão, sua busca para uma resposta. Seu cansaço, no entanto, era muito grande e sua mente divagou. Ele agora sonhava acordado. Sonhava com uma casa maior, dias tranqüilos e seus filhos brincando nos jardins. Sonhava com novas terras, novos mundos, cidades humanas e dias alegres. Sonhava como Abraão que partiu de Ur da Caldéia para o desconhecido. Para Abraão, só uma promessa, sua fé e sua coragem.

Um sinal de trânsito, uma pequena venda. Estas imagens atrapalharam seus sonhos. Era um alerta do final da viagem. Já era hora de descer do ônibus. O tempo passara tão rápido que ele sequer percebera, apesar de ter permanecido em pé e espremido no seu canto. Tinha que voltar à realidade. Seus sonhos foram substituídos pelas indagações do dia anterior. "Não só de pão viverá o homem..." E se apercebeu que encontrara uma resposta.

Estava nos seus sonhos. Visões do futuro, momentos que o impossível se tornava realidade. Seus desejos agitavam seu espírito. Ele era feito à semelhança de Deus. Deus devia sonhar e agir. O Espírito de Deus, sua ação, transformava os sonhos em realidade. O futuro se tornava presente.

Os sonhos eram um dom de Deus, a palavra que despertava o futuro, um presente de Deus a seus filhos. José compreendeu que Deus sempre estivera falando com ele, mas dele dependia o escutar e o agir. As palavras do dia anterior voltaram a ecoar em sua mente. Agora não havia indagações, apenas o júbilo da resposta encontrada. "Não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca de Yaweh, disso viverá o homem." (Dt 8:3)

Rio de Janeiro, maio/1995

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Pão de Cada Dia


Gosto de comer pão. Não interessa a hora do dia, um bom pão quente, francês, italiano, alemão, ou mesmo caseiro,faz minha alegria. No entanto, pão também é um símbolo religioso e secular. Na oração do Pai Nosso, o pão é explicitamente mencionado. Este poema é uma análise livre desta menção.


Pão Nosso

Pão queimado nas aldeias
destruídas pelas guerras.
Pão asmo, sem fermento,
dos que vivem sem tempo.
Pão molhado e grudento
dos que dormem ao relento.
Pão dormido e duro
dos que vivem em apuros.

Pão doce e bem assado
entre crianças celebrado.
Pão partido e repartido
entre muitos distribuído.
Pão, alimento e símbolo,
num mundo conturbado,
Pão nosso de cada dia
nos dá hoje nossa fatia.

RJ, 06/01/2001.

domingo, 2 de maio de 2010

Eucaristia I

                                             Em Memória de mim

                                             E, tomando um pão, tendo dado graças,
                                             o partiu e lhes deu, dizendo:
                                             isto é o meu corpo oferecido por vós;
                                             fazei isto em memória de mim. (Lc 22:19)

                                             Em memória de um passado,
                                             que se revela no futuro,
                                             e o sonho de um futuro,
                                             que começou no passado.

                                             Pão e vinho, na mesa repartidos,
                                             celebram a alegria da vida,
                                             relembram a agonia da morte.

                                             Em memória do Cristo,
                                             presente e transcendente,
                                             rogamos por um futuro
                                             hoje ausente.

                                             Amém.

                                             França, Antony, 16/09/2001.