quarta-feira, 28 de abril de 2010

Um Rosto e um Vaso de Flores



Foi uma breve visão, um relance de motorista. Lá estava aquele rosto, sereno e alegre, de uma moça. Carregava em suas mãos um pequeno vaso de flores amarelas. Margaridas? Talvez ... Não havia como saber. Não sou bom conhecedor de flores e dirigia um carro através de um cruzamento perigoso. No entanto, aquele rosto sobressaiu na penumbra daquela tarde e me chamou atenção.

Era algo especial. Não era uma pessoa conhecida, nem era uma beleza incomum. Meus olhos se voltaram novamente para aquela moça. Precisava compreender aquele brilho especial que irradiava daquele rosto. Seria o sorriso, ou seriam os olhos... Naquele quadro de tons escuros do anoitecer, aquele rosto parecia clarear de emoções o local.

O brilho de seu rosto revelava o espírito da jovem. A visão de um momento futuro. Aquela moça estava ali com um pequeno vaso de flores nas mãos, mas seus pensamentos flutuavam longe no rio do tempo. Ela antevia a alegre surpresa de quem receberia aquele modesto presente. Quem seria? Seu namorado, ou seu esposo, talvez sua mãe ou seu pai, quiçá um amigo ou uma amiga.

Era só um rosto no findar do dia, mas aquele rosto transpirava a alegria de quem vê o futuro de modo positivo e possui um propósito bem definido para a vida.

O cruzamento ficou para trás. Agora, pelo espelho retrovisor, eu via o presente que desaparecia na penumbra. Uma moça de caminhar firme se dirigia para o seu futuro. E eu me recordava dos versos antigos do poeta anônimo “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de júbilo...(Sl 126:1-2)” Aquele era um rosto de quem sonhava acordado, vivia o presente com os olhos no futuro.

Não sei quem era aquela moça, que vivia tão intensamente seu futuro naquele breve vislumbre no cruzamento da Urca. Dela guardo na memória, um rosto e um vaso de flores.
RJ, 06/02/2000.

domingo, 25 de abril de 2010

Tempo de Contar


Conto anos e décadas,
o período de uma vida
que, curto ou longo,
marca nossa lida.

Conto semanas e meses,
as belas flores colhidas.
Desconto os espinhos e as urtigas
que me deixaram algumas feridas.

Conto horas e dias
de tristezas e alegrias
alternando entre tantas outras
noites mal (bem) dormidas.

Conto o tempo do relógio
na parede afixado,
segundos e minutos
e horas do passado.

Conto maravilhado, de Deus,
as graças recebidas,
que permeiam minha vida
quase sempre desapercebidas.

RJ, 06/03/2010.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Amanhecer na Praia



Uma praia deserta é um convite para  a meditação, especialmente se é um:








                  
                 Amanhecer na praia

                          Vento constante,
                          praia deserta,
                          ondas quebram
                          na areia inquieta.

                          O mar, no horizonte,
                          se desfaz no céu.
                          Caminho reverente
                          pelas areias, ao léu.

                          Extasiado pelo momento,
                          absorto me descubro
                          vagando pelo tempo,
                          banhado por um sol rubro.

                          Um grão de areia
                          transportado pelo Infinito
                          Sopro que permeia
                          meu ser e espírito.

                          Costa do Sauípe, 27/11/2005.

domingo, 18 de abril de 2010

Cidade do Interior

                           
                              Cidade do Interior

                           Casas pequenas pela rua desfilavam
                           e furtivas das suas janelas olhavam
                           as poucas pessoas que por ali passavam.

                           Uma porta preguiçosa se abria
                           reclamando do trabalho que fazia
                           para cumprimentar a luz do dia.

                           O armazém todo escancarado
                           esperava um cliente entrar,
                           enquanto seu dono o varria sem parar.

                           Eu, da janela do ônibus, observava
                           a beleza estranha daquele lugar
                           que não parava de descansar.

                                 Itaperuna, 22/03/2002.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Uma Janela

 Algumas casas possuem janelas grandes, outras pequenas. De certa maneira somos casas. Como serão nossas janelas?

                                           Uma Janela
                                          
                                           Uma janela pequena,
                                           rústica com persianas
                                           esconde o interior
                                           mas deixa passar
                                           a luz e o calor.

                                           Uma janela grande,
                                           moderna e envidraçada,
                                           com vista panorâmica
                                           das ruas e das montanhas.

                                           Uma janela da vida
                                           é a poesia que escrevo.
                                           Uma mágica que expõe
                                           alguns dos meus segredos.
                                           Um exorcismo que afasta
                                           meus temores e receios.
                                           Uma prece que elevo
                                           a Deus em terno apreço.

                                                            RJ, 05/09/2004

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Chuvas no Rio de Janeiro

Ainda estamos sob o forte impacto das enchentes provocadas pelas chuvas que desabaram sobre o Rio de Janeiro nos dias 5 e 6 de abril. A foto ao lado mostra o transbordamento da Lagoa Rodrigo de Freitas. Os problemas associados às chuvas são recorrentes. As soluções ...

Chuvas pelo Rio de Janeiro

A chuva espalha a água
que da terra sobe como vapor,
socializa esta benção
sem pedir nenhum favor.

A chuva limpa os céus
da poeira e da fumaça,
desfaz o poluído nevoeiro
que embaça toda a vidraça.

A chuva alaga este Rio
de Janeiro a Dezembro sem descanso.
Os céus desabam em pranto
pela sorte deste pequeno canto.

As nuvens choram pela cidade atordoada
com a guerra que nas favelas se trava,
sem que um governo justo se levante
e pelo povo lute incessante.

RJ, 25/09/2004

domingo, 4 de abril de 2010

Encantos

Será que sabemos guardar os momentos especiais da nossa vida? Aqueles momentos que nos trazem esperança. Que nos fazem sorrir de alegria e nos cativam como se fossem...

Encantos

Ouço
crianças alegres,
velhos agradecidos,
maritacas estridentes,
bebes adormecidos.

Vejo
auroras de novos dias,
pássaros no azul celeste,
chuvas sobre terras secas,
búfalos sobre a verde estepe.

Sinto
A chuva me molhando,
O sol me esquentando,
O vento me refrescando,
A amada me abraçando.

Ouço, vejo e sinto
a vida me embalando,
na alegria ou no pranto,
e guardo destes momentos
todo o prazer do encanto.

RJ, 18/07 e 19/09/1999.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Bom dia

Finais de semana e feriados são dias especiais. Ainda acordo cedo pois é muito difícil mudar nossos costumes, mas tenho a oportunidade de ir comprar pão num supermercado próximo. Comer pão quentinho com café fresco é maravilhoso e certamente é uma maneira especial de começar o dia.

Assim, logo cedo estou saindo do prédio. Bom dia, Antônio. Comprimento o porteiro e sigo adiante. No supermercado, escolho o pão, peso e me dirijo para o caixa. Bom dia, fulana de tal. Não a conheço pessoalmente, mas o nome está no crachá. Recebo um sorriso como resposta e um bom dia de saída. Algumas vezes passo por pessoas que mal conheço e as comprimento. Bom dia. Alguns gaguejam para responder, outros sorriem e retornam o comprimento. Uns poucos fingem que não existo. Talvez para estas pessoas eu não devesse existir.

Nestes dias especiais eu percebo que um “Bom Dia” é mais que um comprimento retórico. É uma palavra de esperança e de apoio que damos para aqueles que nos cercam, conhecidos e desconhecidos. Não sabemos quais são seus desejos, ou suas aspirações, nem conhecemos seus medos, ou suas ansiedades. Damos nosso apoio sem buscar retorno, sem querer controlar o resultado final. De certa maneira, rogamos uma benção.

Tenha um bom dia, uma boa tarde, ou uma boa noite, e cultive esta oportunidade de compartilhar uma pequena benção.

RJ, 02/04/2010.