domingo, 12 de julho de 2015

Margit e Otto


 
Orquídea, 2013.


Margit e Otto

 Uma folha de papel branco, meio acartonado, resistente o suficiente para não se dobrar. Lá estavam escritos dois nomes Margit/Otto. Uma reta inclinada separava os nomes, duas pessoas distintas. Aparentemente nada era especial. Um senhor baixinho, pele rosada e um pouco enrugada, pouco cabelo, quase todo branco, segurava o pequeno cartaz. Olhava com paciência para o portão de onde emergiam os viajantes que chegavam ao Rio de Janeiro. Pessoas que não se viam há muito tempo recebiam calorosa recepção. Outros eram recebidos de forma profissional por guias turísticos, ou contatos do trabalho... Aquele senhor continuava ali. Parado a quatro passos de onde eu estava, a espera de alguém, tal como eu.

O desembarque internacional de um aeroporto é sempre um lugar interessante, onde o calor humano normalmente flui de maneira natural. A expectativa, a ansiedade e a alegria de rever a filha, o amigo, os pais ou a pessoa amada... Este parecia ser o contexto daquele senhor. Até que apareceu uma senhora baixinha, cabelos castanhos, talvez pintados e um rosto branco. Uma mulher com uns setenta anos, com aparência saudável. Carregava uma mala média sobre rodas e um papel branco acartonado que fazia questão de deixar bem visível, com dois nomes Margit/Otto. Estavam escritos da mesma maneira e com o mesmo traçado das letras. Ela parou ao lado do segurança e perguntou se ele tinha visto alguém com um cartaz com os nomes que estavam no papel que segurava com tanto cuidado. 

 O segurança não falou nada. Só apontou para o senhor que estava ao meu lado. A mulher abriu um sorriso largo, gostoso, como de uma criança que vê o presente tanto sonhado. Em poucos passos alcançou aquele que esperava e se abraçaram. Eram duas pessoas que não se conheciam pessoalmente. Dois irmãos separados a dezenas de anos? Dois adultos enamorados num encontro as escuras? Não sei. 

Era um poema escrito em dois movimentos distintos com um desfecho compartilhado. Uma aposta entre frustrações versus expectativas. Naquele momento, o sonho venceu. Para aquelas duas pessoas de idade avançada desenhava-se um novo começo. 

Margit e Otto saíram abraçados do aeroporto. 

RJ, 14 de dezembro de 2014.