quarta-feira, 16 de junho de 2021

O que fazer com o nosso tempo

Monumento Nacional do Holocausto, Ottawa, CA, 2019.

Eu não tenho tempo. Estou cheio de trabalho. Meu professor de Termodinâmica não para de passar tarefas. Não dá para eu estudar todas as disciplinas com o mesmo empenho. Filho(a) não poderei sair com você porque preciso terminar de fazer uma(um) prova(projeto). Estas frases são conhecidas por todos nós. Com certeza alguma vez usamos uma destas frases com pequenas alterações como uma justificativa para nos isentarmos de realizar alguma tarefa. Elas são similares a uma outra forma de fugir de um compromisso. Eu não conheço o assunto. Não tenho tempo de aprender, ou ajudar no trabalho.  

 

Hoje a tarde, abri meu servidor de e-mails. Comecei a tarefa de separar o importante das propagandas não solicitadas e me deparei com um e-mail diferente. Perguntava se eu poderia escrever em dois dias sobre valorização do tempo: pesquisa e aulas. Fiquei tentado em responder que não tinha tempo. Verdade. Algumas vezes nos falta tempo para fazer as coisas que queremos. Outras vezes estamos assoberbados e nos esquecemos do que deveríamos fazer, quando percebemos, já é tarde. Estamos sem tempo. Este conceito tão valioso como escasso.Os gregos empregavam duas palavras distintas para o tempo: Kairós e Chronos. Eles conheciam um significado muito mais profundo que o conceito tempo abriga. 

 

Chronos é a medida do tempo do relógio, é o tempo físico que passa e nunca mais retorna. Algumas vezes sabemos aproveitar este tempo, outras tantas desperdiçamos. Como a areia que desce pela ampuleta, ele se esvai.

 

Eu crio listas e agendo tarefas para me lembrar. Uma maneira ativa de procurar ser bem sucedido nas minhas tarefas e não faltar os meus compromissos. Comecei com uma pequena lista, depois passei empregar um aplicativo no computador e, finalmente, voltei para o papel almaço. Minhas listas são grandes e, naturalmente, nunca tenho tempo para terminar… Sempre aparece uma tarefa nova: urgente ou importante.

 

Kairós é o tempo oportuno. Quando temos o melhor retorno, ou realizamos algo muito importante para nossa vida. Muitas vezes pensamos que este tempo não é importante por não estar associado a um período físico de tempo. Pensamos que este tempo não é urgente e deixamos para outro momento no futuro. No entanto, este é o mais precioso dos dois conceitos de tempo. Seu intervalo no relógio pode se curto, ou longo. Algumas vezes minha percepção é de um tempo infinito, como no poema de Vinícius de Moraes, “infinito enquanto dura.” Se atentos, damos primazia para este momento sobre todos os demais. 

 

A decisão de organizar o tempo é uma escolha entre o importante e o urgente. Certamente muitas tarefas que executamos são urgentes: a prova, o projeto, o estágio… Imagino que sua lista seja enorme. A minha é! Muitas vezes não consigo enumerá-las numa folha de papel almaço, que emprego como maneira de me organizar. E fico sem chão, sem saber como começar. 

 

Normalmente, começo pelas tarefas mais simples, ou mecânicas. Outras vezes paro tudo e vou caminhar, desestressar, reduzir a ansiedade causada pela lista de tarefas e compromissos. Aproveito para divagar, ou repensar minha vida, e descobrir o que me é realmente importante. Não sei como você controla sua ansiedade e seu tempo cronológico. Terá que descobrir por conta própria nos momentos de fuga dos seus afazeres. Esta não é uma tarefa simples nem óbvia. Irá precisar de toda a vida para executá-la. O mais importante é procurar optar pelo Kairós, o tempo oportuno, o tempo importante, e aproveitar a sua vida em todos os momentos.

RJ, 05/Maio/2021

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