Mais um dia de guerra urbana eclode na zona sul do Rio de Janeiro. Era cerca de uma hora da tarde quando os helicópteros da policia começaram a sobrevoar a Rocinha. Neste episódio a briga foi entre traficantes e polícia mas as sobras respingam sobre todos. Algumas vezes a briga é entre quadrilhas rivais. Em qualquer situação, os moradores do local e das vizinhanças ficam sitiados em suas próprias casas. Os dois poemas abaixo foram escritos com anos de separação sobre o mesmo tema: as incertezas e a esperança destes moradores.
Guerra Urbana
No caos urbano
da grande cidade
cresce sua filha
de mãe solteira, a favela.
Abandonada pelo governo,
despojada de beleza,
sobrevive na incerteza
do próximo arrebol.
Clarões e estampidos
ecoam entre as casas.
Agouros de morte
cruzam os céus...
Em busca do alvo
desconhecido, morto
por bala perdida.
É noite de guerra.
Não se ouvem cantos
nem se distinguem risos.
Nas feições, o pavor
da morte e da dor.
Escondida em algum canto,
uma voz eleva um louvor.
O meu consolo vem do Senhor
que há de atender meu pranto.
RJ, 24/abril/2009.
Dois momentos
Entardece.
Ao longe ergue-se uma cruz.
A agonia da morte reduz
a beleza do sol que reluz.
Entardece.
Na praça, o corpo caído,
entre tiros e pais aflitos,
as crianças se escondem do conflito.
Entardece.
A penumbra esconde
o brilho do sol
e a esperança de novo arrebol.
Amanhece.
Pássaros ciscam na praça,
vazia e sem graça,
sob o sol que tarda.
Amanhece.
Sob raios de luz quente
aparecem crianças sorridentes
com o novo presente.
Amanhece.
O túmulo, uma caverna vazia,
proclama nova vida.
Cristo Jesus ressuscita.
RJ, 16/05/2004.
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