José Urbano tinha feito sua maior decisão na vida. Abandonou a cidade onde nascera e vivera até aquele momento e partiu para o interior. Foi uma decisão madura, discutida com sua esposa nos últimos três anos. Seus filhos ainda eram pequenos, não freqüentavam nenhuma escola, mas ele mal os via, mergulhado no trabalho diário para trazer o sustento da família. Deveria existir outra alternativa.
Sua opção foi trabalhar no campo. Vendeu tudo que tinha e comprou uma pequena fazenda e grãos para plantar. Nunca tivera experiência como agricultor e, por isso, comprou livros. Precisava aprender com grande velocidade. O tempo para plantar era curto. A terra precisava ser arada e preparada para o plantio. Executou a primeira tarefa com auxílio de equipamentos alugados. Logo, o campo estava pronto para semear. José pegou os sacos de semente e espalhou pelo campo.
Que experiência! Trabalhava no presente sem conhecer os resultados. Pela primeira vez vivia o presente com os olhos no futuro. Seu sonho deveria ser regado e cuidado a cada dia, semana e mês. Precisou aprender a cultivar seu campo, sua esperança e sua perseverança.
Veio o tempo da colheita. O sonho se materializava no belo colorido do milho maduro e das grandes vagens verdes. José Urbano estava feliz, mas seu aprendizado no campo e na vida ainda estavam no início. Logo descobriu que nem tudo frutificou como esperava. Alguns grãos tinham caído nas trilhas dos animais e dos camponeses locais. Foram pisoteados e, os poucos que cresceram, tiveram os frutos arrancados. Outros caíram em terras impróprias, cheias de pedras. Ali as ervas daninhas cresceram e sufocaram os brotos. No entanto, uma fração apreciável de suas sementes germinaram, cresceram e deram frutos. José Urbano tinha alcançado seu sonho e também compreendido uma estória que ouvira ainda adolescente.
Era a Parábola do Semeador, contada por Jesus há milhares de anos. Jesus tinha explicado sobre a dificuldade de semear o Evangelho e os estudiosos desta parábola enfatizavam somente este ponto. Eles perdiam uma parte essencial da estória. Só uma pessoa sem experiência plantaria nas trilhas dos animais e em terras pedregosas. Precisava ser um José Urbano, crescido desde criança nas grandes cidades de ferro, concreto e asfalto. Por outro lado, só um sonhador seria capaz de trabalhar mesmo com poucos conhecimentos, sem avaliar todos os obstáculos e, tão somente, plantando para o futuro.
O sonho e a ação daquele lavrador da parábola determinaram seus resultados. José Urbano, longe da cidade e vivendo no campo, compreendia agora a beleza e a força das palavras de Jesus quando começou a contar aquela parábola “Saiu o semeador a semear” (Mt 13:3 ou Mc 4:3).
RJ, 25/08 a 14/10/1996.
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