segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Eternidades

Era uma tarde típica de verão no Rio de Janeiro. Uma lua quase cheia pintava de branco o céu azul claro desta tarde. A montanha do Corcovado, coberta com inúmeros matizes de verde, descansava imponente no horizonte. As andorinhas brincavam de pique-pega sobre os prédios vizinhos. Uma brisa leve burlava com as plantas próximas e acariciava a face. O tempo havia perdido seu significado limitante. Durante segundos, talvez minutos, fiquei observando a beleza que se descortinava da varanda do nosso apartamento. O tempo havia parado. Eu estava vivendo a eternidade dos que contemplam o belo.

Nem todas as eternidades são agradáveis. Quem já sobreviveu a um acidente, por mais banal que seja, conhece o significado da eternidade dos impotentes. Foi assim que me senti quando retornava de Caxambu alguns anos atrás. Éramos quatro dentro de um pequeno carro. Eu estava no banco atrás do motorista. Todos nós conversávamos animadamente enquanto uma garoa fina mal molhava o vidro do carro. No meio de uma curva, uma freada mais brusca fez o carro derrapar e começar a rodopiar. Vinte, ou trinta segundos, se passaram entre a ribanceira e o barranco. Esta é a eternidade dos impotentes, quando nossa vida está suspensa por um fio e a angústia assalta nosso espírito.

Estas eternidades nascem da emoção e nos deixam fortes recordações. Todos nós sabemos que elas são somente distorções mentais de como percebemos o tempo, apesar da realidade de seu impacto emocional. No entanto, existe uma eternidade real. Não é exatamente um tempo infinito, que poderíamos navegar como um viajante para o passado, ou o futuro. Não é o nosso registro histórico dos nossos feitos, ou de(s)feitos. Antes é uma eternidade transcendental, resultante da ação de Deus na História. Ela é graça derramada, reconciliação de Deus com o ser humano. Tempo do novo céu e nova terra, quando a dor será substituída pela alegria e o prazer. A doença deixará de existir e a vida vencerá a morte. O tempo certo do cumprimento da promessa de Deus.

No entanto, esta eternidade não espera um tempo futuro para seu cumprimento. Ela já se iniciou e está presente na vida de cada um de nós que aceitamos nossa responsabilidade de alterar o presente. Que aceitamos a graça de estarmos reconciliados com Deus. Transformamos nossa vida em ação para com nosso próximo e ajudamos a construir um mundo melhor. Neste processo, apesar de todas as dificuldades, encontramos nossa felicidade e transcendência. O sentimento de dever cumprido, a eternidade que faz diferença.
Rio de Janeiro, 05 de maio de 2001.

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